Blogame mucho
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keywords: description: Blogame mucho 28.2.09Afinal não consegui.
19.2.09 amanhã conto uma coisa mais bonita, se conseguirtenho cada vez mais medo de pessoas radicais
disse eu aos meus pais
e eles perguntaram-me "quais?"
e eu não respondi, não se responde assim aos pais
Gostava de ter tido a força e a falta de medo que me chegassem para ter ficado nos Açores quando pude lá ficar.
Quase há 20 anos.
E nem sequer percebo bem porque é que vos estou a falar disto agora. Se calhar foi por ter visto o Guilherme na televisão, ele que nem deve lembrar-se de mim, sequer, eu era mais novo e era e sou pouco marcante, mas lembro-me eu dele.
Para ser eu a escrever basta-me a minha lembrança.
E vi-o, ao Guilherme, também ele vinte anos mais velho, há meia hora. Nem tanto.
Um electromecânico encontrou um génio que se entretinha a entrar e a sair da sua lamparina hipotecada, sucessivamente, enquanto gemia sempre de si. Reparou, o electromecânico, que, nesse movimento mole, o génio tentava gemer cada vez mais alto e que, dada a sua capacidade de repetição, se tratava ali dum gemebundo crónico armado aos cucos e com amplificador. Dum utilizador das emoções dos outros sem as sentir ele, a menos que empiteirado sem ser até ao excesso da vómica, isto, já se pressente, por incapacidade sensitiva sóbria, mas dotado, ainda assim, da mímica manipuladora dos símios. E que parecia tenso, sempre à beira de arrebentar-se ou, por fragilidade mais provável, de o arrebentarem um dia.O electromecânico, que vinha de fato-macaco azul escuro e iluminado apenas pela decência, atreveu-se a perguntar ao génio se aquele afã quase pavloviano de estar sempre naquela rotatividade sem outro sentido além do que lhe seria, se fosse o caso, mas não parecia, conferido pelo próprio e repetitivo movimento de "entro e saio da lamparina quando eu quero", ou seja, um exercício de "posso, portanto quero", se devia a um desgosto de amor, a um homicídio culposo (mas provavelmente involuntário) antigo, à evidente e genial estupidez característica dos moluscos com espelhos baços no quarto de banho, a alguma cornucópia antiga, à mercenária e génica - e genial - cupidez dos tarados, ou, apenas, tristemente, a uma desgraçada procura incessante do próprio umbigo; uma coisa que fosse, mais ou menos, "onde foi que deixei a minha cicatrícula, que não sei dela e preciso que dela me digam que é especialíssima, embora crie cotão?".O génio, que, apesar de maluco e molezinho, não era desprovido daquelas colagens (ou autocolagens?) cerebrais que acontecem facilmente em gelatinas dadas à disautonomia e ao velcro fácil - reparem, quantas vezes, para compensação do vazio, se fazem colagens, se faz "velcragem"?; a sério, faz-se tanta merda em tanto cérebro, assim invadido, assim permissivo, assim permitido, assim frouxo, assim tão enrabado, assim tão... quase auto-parasitado - , respondeu ao electromecânico, numa voz aguda de varina serrana, que o umbigo era dele "e, portanto, cala-te".O electromecânico preferiu calar-se, de facto, mas verificou que, na boquinha apanascada do génio, ali colado, ali quase velcrado na dentição maligna, havia uma espécie de letreiro que dizia "quebra-ma toda".
17.1.09 Mal, ou - ao menos - mais ou menos, este lugar continua-seEla caiu há dez dias, em casa, escorregou-se nela e bateu com a cabeça no chão e desmaiou, susto grande. Acordou no hospital e, da queda propriamente dita, nada resultou de nefasto: cabeça limpa.Tinha era o que tinha, conhecia-a há vinte meses e, já por esse tempo, tinha o que tinha, chegou-me à minha vida numa rampa inclinada da vida dela, ladeira descida com travões a fundo mas sem ABS.Equiparam-na de pijama bonito, na enfermaria. Ela mais amarela e mais inchada, por dentro dela e do pijama, do que há quinze dias. "Vais-te...".Foi-se. Hoje morreu. Ia dizer "morreu-me", mas já não. Aprendo tarde, mas ainda aprendo. Ela morreu, sim.E morreu-lhes a eles, ao homem e aos três filhos, que lhe abraçaram o corpo e lhe beijaram a face como se as lágrimas do fim fossem loção que oleasse despedidas.A mim, não. A mim não me morreu.Limita-te, besugo, para já, a acompanhar as rampas inclinadas dos outros. Aprende: tu só acompanhas.Até sentires que começas a descer a tua - olha, pode ser de repente, besugo, pode ser como foi com o Rui, o teu colega que foi hoje a enterrar, podes até nem dar muita fé da rampa, da ladeira, besugo lorpa.E, quando isso te chegar a ti, que tenhas alguém que te chore em cima uma loção qualquer de adeus. Um unguento quase líquido que comova, ao menos, quem estiver ali de bata branca - fardamento nobre da pobreza -, se calhar ser o caso, a acompanhar, calado, quem estiver, se vieres a ter essa sorte por destino, a ungir-te.
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